Kate Weiss - Design e Poesia

Capa

Meu Diário

Textos

Áudios

E-books

Fotos

Perfil

Livros à Venda

Prêmios

Livro de Visitas

Links


Textos






Uma lição de vida
 
Eram tempos diferentes aqueles, da minha infância. Desde tenra idade as cores me fascinavam e já contei isso em outra crônica.
 
Tanto é, que o meu maior sonho de consumo era ganhar uma caixa de lápis de cor, daquelas de 36 cores, caixa grande, que nunca ganhei, mas que sonhei com ela durante muitos anos.
 
Ao lado da casa onde eu vivia com meus nonos (avós em italiano) morava uma costureira, e ela possuía na parede do seu quarto de costura um painel com preguinhos e neles os carretéis de linhas todas alinhadas por tom, desde o branco passando pelos diversos tons de rosas, lilases, amarelinhos, azuis e verdinhos até os tons médios e fortes terminando em tons de azul escuro e finalmente o preto.
 
Eu tinha um verdadeiro deslumbramento pelo painel de linhas dela, e, muitas vezes em que eu ia à casa da dona Wally, a costureira, era apenas para olhar as cores, que eu achava a coisa mais linda do mundo.
 
Ela tinha uma filha, Karin, dois anos mais velha que eu, e gostávamos muito de brincar de costurar roupas para nossas bonecas já que, retalhos nunca faltaram para que fizéssemos um guarda-roupa muito grande para nossas bonecas.
 
Um dia, lembro-me bem, apesar de ter-se passado tanto tempo; Karin não estava em casa e eu pedi para sua mãe se podia pegar retalhinhos de tecido lá no quarto de costura para brincar em casa, ela concordou e fui entrando devagar naquele quarto.
 
Parei encantada em frente àquele painel de retroses e carretéis e fiquei olhando, quantas cores, quantos tons, quantas possibilidades, e sem nem pensar muito escolhi um da cor mais linda , na minha opinião, para levar comigo e costurar em casa meu paninhos. Não lembro a minha idade, imagino que seja entre seis e oito anos, ingenuamente tomei aquela linha e levei comigo para casa, junto com os retalhinhos. E estava calmamente costurando, quando minha nona chegou e perguntou:
 
- E esse carretel de linha cor-de-rosa de onde veio?
- Da casa da dona Wally, respondi-lhe prontamente.
- Ela te deu?
- Não, eu peguei, e trouxe para costurar.
- E, você pediu para a vizinha e disse quando irá devolver?
- Não, peguei pra mim.
 
Então minha nona me pegou pela mão e me fez sentar explicando pela primeira vez em minha vida que algumas coisas são nossas e outras não, que existe uma divisão de propriedade, e levou-me até a plantação de moranguinhos que dividia nossas duas casas e mostrou-me que a partir daquele ponto o que eu encontrasse já não era meu, e sim da vizinha, e, que eu jamais poderia levar para minha casa algo que encontrasse do lado de lá.
 
E, ainda que aquele portãozinho branco significava que eu não tinha liberdade total, e que aquele era um marco, mesmo sem chave,  tendo uma tramela apenas, eu deveria respeitar.
 
Então ela foi comigo, até a casa da costureira para devolver a linha, e pedir desculpas.

Parece tão simples, parece quase nada, mas foi uma grande lição de vida que eu tive o cuidado de passar aos meus filhos desde muito pequenos, que a nossa liberdade é total até onde começa a da outra pessoa. Bons tempos aqueles, que saudade.

***
Kate Weiss
Enviado por Kate Weiss em 05/08/2007
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Site do Escritor criado por Recanto das Letras