A casa Kate Weiss
Perigosos espinhos de rosas guardavam aquela cerca. O portão, de madeira velha, avisava quando a tramela era empurrada.
Da janela do quarto da moça; debruçadas estavam as begônias preguiçosas a tomar sol.
Na varanda, penduradas em pequenos vasos soltavam seus lindos 'cabelos' as samambaias.
Havia uma fortuna escondida naquela pequena casa. Que qualquer ladrão poderia cobiçar.
O chão que reluzia e espiava por baixo das saias. Escuro ébano, verdadeira jóia rara.
Tesouros escondidos. Em velhos armários que rangiam - seus dentes- a qualquer intrometido . Dentre eles: bonecos de pano, presépios, artes de páscoa, guirlandas de casamento e de enterro. Lindos, e importantes como só eles poderiam ser. Ai daquele que por descuido transpusesse a sala , onde o relógio de parede pingava as horas: tic -tac tic- tac tic - tac... E, de repente o badalo cortando a hora resmungava: TÓIIIIIIIIIINNNNNNNNNNNNNNN !!!! Na cozinha sobre a mesa, o velho rádio com o fio negro da antena chiava a 'HORA DO BRASIL" depois silenciava até o galo cantar no outro dia.
No guarda-comidas, espiando por entre os pequenos orifícios da grade de metal, penduradas ficavam as linguiças, e os queijos trocando altos papos em alemão e italiano.
No fogão à lenha, a polenta resmungava e cuspia: PUF, PUF, PUF. Era hora do manjar: A rainha (polenta), o aipim, galinha com molho espesso, salada de chuchu com molho branco. De sobremesa: compotas : de goiaba, de peras de maçãs.
Tudo sendo olhado e cuidado pelo óculos da NONA que da prateleira conferia tudo.
Saindo da cozinha, a escada para o caramanchão, flores trepadeiras e malandras se enrolavam pelas ripas.
A bomba d'água chiava cansada com o peso do balde cheio, mas antes do trabalho exigia uma baita caneca cheia de água, só depois então resolvia va-ga-ro-sa-men-te bombar.
Ah! que casa cheia de tesouros onde a família era a preciosidade maior. Um dia, a casa foi vendida e a velha NONA precisou mudar, sem nada entender, e senil passou a falar sem pensar...
- Cadê, aquela menina, - Cadê meus filhinhos, - Cadê meus tesouros...
E a casa daquele dia em diante passou a se chamar apenas: O LUGAR.
Kate Weiss
Enviado por Kate Weiss em 26/12/2010
Alterado em 16/01/2011
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